Paulo R. Oliveira morava na rua
[vagabundo
Anderson O. Pereira cheirava cola
[drogado
Paulo J. Silva pedia dinheiro no farol
[pivete
Marcos A. Alves Silva não ia pra escola
[maloqueiro
Leandro S. Conceição furtava comida
[delinquente
Gambazinho ficava pedindo esmola
[desocupado
 |
| São vinte anos atados numa cruz. |
Valdevino M. de Almeida era preto
[bandido
Marcelo C. Jesus catava papelão
[ignorante
Paulo R. Oliveira queria ser
[doutor
Anderson O. Pereira queria ser
[jogador
de futebol
Paulo J. Silva queria ser
[bombeiro
Marcos A. Alves Silva queria ser
[mecânico
Leandro S. Conceição queria ser
[piloto
de fórmula um
Gambazinho queria ser
[músico
Valdevino M. de Almeida queria ser
[presidente
Marcelo C. Jesus queria ser
[gente
E não foram eles que impediram
Há vinte anos eles eram sonhos
Eram jovens, pretos, pobres
Hoje eles são ausentes
São nomes dourados numa cruz
São almas errantes esperando o dobrar do sino da
justiça
Mas o sino que dobra é somente o da hora de
esquecer
Há vinte anos eles eram a realidade
Eram discriminação, preconceito, ignorância
Hoje eles são o presente
São cracudos, mendigos, pedintes
São lamentos perdidos esperando quebrar o silêncio
da impunidade
Mas o silêncio ainda cala os lamentos de outras
mortes
São corpos pintados no chão da praça
Pisados por uma justiça que não olha pra baixo, nem
pra trás
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