Romperam de
vez quando ele colocou o ventilador ao lado da mala.
Era o sinal
de que não havia mais amor.
Dormir um de
costas para o outro era justificável naquele verão infernal.
Mas ali
estava a separação. Era o exemplo de toda a individualidade dele. De toda sua
falta de empatia. Acima de tudo – falta de compaixão.
Por isso ele
nem se ressentia em tomar o caldinho que fica quando o sorvete derrete. E a
expressão que ele fazia quando ela pedia o último gole da cerveja antes de
saírem do bar.
E sem paixão
o que sobra do amor?
Agora ele
espera o metrô na plataforma.
Sentado em
cima da mala. Não olha vagamente.
Precisa de
uma fita isolante para encapar o fio que ficou preso. Quando ela fechou a porta
para tentar evitar que o ventilador se fosse. Um ato que demonstrava sua
infantilidade.
Aquelas
brincadeiras de madrugada que o irritavam não eram carinho. Era pura constatação
de que ela não amadurecera para entender o tipo de amor que ele queria.
Seria preciso
também limpar as pás do ventilador.
Talvez o
único ato que os unia. Afinal nenhum deles havia limpado o ventilador durante
aqueles meses. Mas não era um ato e sim um anti-ato. O conceito filosófico que
faltava para explicar por que aquele relacionamento se acabara.
Ela sofre. O
calor é ainda maior. E como comprar outro ventilador se ficou sozinha no
apartamento e não tem com quem dividir o aluguel? Serão dias tristes e de
longas bebedeiras. Para se refrescar – que fique bem claro. Mas as amigas não
vão pensar assim.
E ele?
Ele sente que
fez a escolha certa!
Curti demais.
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