segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mais um conto de verão...

Romperam de vez quando ele colocou o ventilador ao lado da mala.
Era o sinal de que não havia mais amor.
Dormir um de costas para o outro era justificável naquele verão infernal.
Mas ali estava a separação. Era o exemplo de toda a individualidade dele. De toda sua falta de empatia. Acima de tudo – falta de compaixão.
Por isso ele nem se ressentia em tomar o caldinho que fica quando o sorvete derrete. E a expressão que ele fazia quando ela pedia o último gole da cerveja antes de saírem do bar.
E sem paixão o que sobra do amor?

Agora ele espera o metrô na plataforma.
Sentado em cima da mala. Não olha vagamente.
Tem os olhos fixos no ventilador. Analisa os danos.
Precisa de uma fita isolante para encapar o fio que ficou preso. Quando ela fechou a porta para tentar evitar que o ventilador se fosse. Um ato que demonstrava sua infantilidade.
Aquelas brincadeiras de madrugada que o irritavam não eram carinho. Era pura constatação de que ela não amadurecera para entender o tipo de amor que ele queria.

Seria preciso também limpar as pás do ventilador.
Talvez o único ato que os unia. Afinal nenhum deles havia limpado o ventilador durante aqueles meses. Mas não era um ato e sim um anti-ato. O conceito filosófico que faltava para explicar por que aquele relacionamento se acabara.

Ela sofre. O calor é ainda maior. E como comprar outro ventilador se ficou sozinha no apartamento e não tem com quem dividir o aluguel? Serão dias tristes e de longas bebedeiras. Para se refrescar – que fique bem claro. Mas as amigas não vão pensar assim.
E ele?

Ele sente que fez a escolha certa!

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