segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aos que ocupam a história

Devanir, temeram tua luta.
Hoje temem seu nome.
Pra sempre temerão seu exemplo! 

Porque foste na engrenagem da história
Um dente rebelde que doía e sangrava
Mas que suportava todos os golpes
De alicates arrancando
De paus perfurando
De cordas sufocando
De lonas ocultando
Tua carne e teus ossos
Mas que não caía
Pois suas raízes estavam profundas
Na terra regada ao sangue dos trabalhadores e trabalhadoras
Onde mantivera seus pés firmes
Mesmo sobre o óleo que corria das fábricas
E fizera escorregar tantos outros
Cegados pelas miragens da ilusão de classes

homens de ontem e de hoje
Que de uma forma ou de outra

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mãe Palestina

Arte de Abdel Rahmen Mozayen
A maior dor para os palestinos
Deve ser atacar sua própria terra.
Talvez por isso os foguetes sejam tão inofensivos
Como a mãe que repreende o filho
Batendo mais com sua moral, para chamar a atenção
Do que com a própria violência do golpe.

Israel é o vizinho mau da casa ao lado
Afinal, desde quando, alguém agride o filho alheio?
Ainda mais contra a vontade de seus próprios filhos
Que sofrem ao ver o amigo chorando.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Vai-te embora coração

Vai-te embora coração
Deste corpo que não te pertence
Se não vai
Que de repente
Aqueles olhos, há de ti querer
E te querer aqueles olhos

Vai-te embora coração
Arreda pé desse caminho
Não me amole
Assim mansinho
Porque entre um gole e um carinho
Quem fica com as dores sou eu

Vai-te embora coração

segunda-feira, 10 de março de 2014

Conselhos para o próximo Carnaval


O poeta que não quer se dar ao ridículo,
Não quer ser lembrado pelo mau poema que escreveu - Mesmo que só ele perceba
E que a todos seja agradável –
Não deve escrever muito
Amar muito
Não deve viver muito.

Assim como quem não quer lamentar um amor
Não quer remoer-se pelo suco gástrico da amargura
Ainda com altos teores de álcool e confetes do carnaval
Não deve amar muito,
Viver muito.
Não deve escrever
Uma carta de amor sequer.

Não é de bom grado –
Para quem tem muito amor –
Viver e escrever

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mais um conto de verão...

Romperam de vez quando ele colocou o ventilador ao lado da mala.
Era o sinal de que não havia mais amor.
Dormir um de costas para o outro era justificável naquele verão infernal.
Mas ali estava a separação. Era o exemplo de toda a individualidade dele. De toda sua falta de empatia. Acima de tudo – falta de compaixão.
Por isso ele nem se ressentia em tomar o caldinho que fica quando o sorvete derrete. E a expressão que ele fazia quando ela pedia o último gole da cerveja antes de saírem do bar.
E sem paixão o que sobra do amor?

Agora ele espera o metrô na plataforma.
Sentado em cima da mala. Não olha vagamente.
Tem os olhos fixos no ventilador. Analisa os danos.