quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Criança

Criança é pra morrer

De alegria
Criança é pra matar
De felicidade
Criança é pra viver
Sempre bom dia
Criança é plantar
Sempre bondade
Criança é pra sonhar
Outra sociedade
Criança é pra criar
A liberdade

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Cadê tu

Onde está tu, poesia,
Quando o mundo precisa de você pra não me acabar
Estou quase achando normal um amor em que não se ama
Uma revolução sem levantar chamas
Música que não dá vontade de dançar
Onde está tu
Quando não se corrige mais quem erra
Nobel da paz é dado pra quem camufla melhor a guerra
E se soterra os caminhos que deveríamos trilhar
Onde está tu, poesia
Agora que o dia-a-dia virou apenas dia-a-dia
Que uma cama vazia é apenas cama vazia
E não mais lugar pra se sonhar
E desesperar
Cadê, cadê tu, poesia

sábado, 27 de agosto de 2016

Nós

Em noites que a democracia é tirada de cena
Surge a Lua em seu lugar
Com uma luz que não é sua esforça-se para nos iluminar.
Nos bares pessoas choram, caem, se abraçam
Garrafas tilintam e o tempo passa
Entre o pedido e a memória do garçom.
E nós, aparentemente alheios a tudo isso
Lançamos perguntas e bolamos respostas
Sempre com classe
Com a nossa classe
E uma caipirinha super doce parece que quer nos consolar
Frente aos males do mundo
Mas é preciso ir bem mais fundo quando se quer mudar.
O frio, na rua, lembra que é preciso encarar a realidade na hora de ir embora
Pessoas e livros abertos durante toda a madrugada
Nos comovem e fascinam
São Paulo é um mundo. Eu sou um mundo. Você é um mundo.
E todos se alinharam essa noite
Para receber os caprichosos raios luminosos refletidos pela Lua, que as vidraças dos prédios refletem em nossos olhos
E refletimos que nem sempre os caminhos são os mais fáceis.
Um relógio belo e distante tenta dizer que é 5h16 da madrugada
Mas para mim é um momento único
Como será Vênus e Júpiter num único ponto do céu, na noite seguinte
Há milhões de quilômetros
Quando substituirão com brilho e beleza as noites que não estaremos em nossos braços.
Mas hoje estamos, nos unimos e com esforço somos do mesmo tamanho
E nos beijos atamos nós.
Entrelaçamos as mãos em nós.
Fazemos da noite, da Lua, da vida
Nós

terça-feira, 19 de abril de 2016

Na opinião desses senhores




A democracia é uma mulher negra
Que aos 30 anos não dá mais prazer aos senhores.
Andou gerando filhos e filhas libertos que não aceitam mais o açoite e as migalhas.
Por isso, deveria ser mantida no quarto dos fundos
E dar espaço para a amante que os deixa com a dita dura e os faz gozar melhor.

A democracia é uma mulher indígena,
Que encantou, como novidade nua, quando esses senhores desembarcaram aqui das suas ditas duras aventuras.
Agora que seu idioma é compreensível a todos e seus gritos de denúncia podem ser entendidos
É melhor mandá-la para o interior da mata.
Talvez enterrá-la numa vala clandestina em Araguaia ou Perus.

A democracia, para esses senhores, só é boa quando criança.
Não reclama do que recebe, de quem parece lhe defender, e não sabe ainda julgar.
Quem sabe dizer seu nome é seu amigo
E pode inclusive sequestrá-la mostrando um punhado de balas
Ou abusar da sua inocência e beleza oferecendo um pirulito.

Mas quando jovem, a democracia é irritante.

sábado, 30 de janeiro de 2016

E o sábado chegou

E o sábado chegou
Assim parecido com a morte

E eu que nunca fui muito forte
Estou deitado na cama desafiando o universo
A cada verso peço nova sorte
Afaste-me dela, traga ela pra mim
Me mate
Do estômago, do coração ou do rim
Até mesmo de infarte
Eu já fiz minha parte, já sofri
Eis-me aqui deitado, jogado
Nem um pouco embriagado
Pra desdizer o que eu fiz

Mas só o que me chega
É uma diarréia
Ora, que ideia
Esse universo é mesmo esperto:
Ao invés de ficar dizendo merdas
Vá logo fazê-las
Quem sabe assim você se livra delas
E pode voltar a ser feliz

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Um gato qualquer

Como é difícil amar uma gata
Quando se é um cão infeliz
Sem querer ela me maltrata
Só por ser o que é e o que sempre eu quis

Sabe bem encontrar o momento
Chega perto, se esfrega e se vai
E aí que começa o tormento
Você lava, lava e o cheiro dela não sai

É uma gata de amor infinito
Tão sábia e forte, eu posso sentir
Essa força que eu acredito
Ser a semelhança que ainda vai nos unir

Agora você me compreende, amigo?
Não foi simplesmente uma mulher
O que ela quiser que eu faça eu consigo
Ser seu cão mais fiel ou um gato qualquer

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Drummundo

Mundo,
Vasto Mundo.
Se você fosse de todo mundo
Sem fronteiras, eiras
Nem beiras
Não seria apenas rima.

Seria solução!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Poema 02

Compreender o que aconteceu
Entender cada momento seu
E quais deles também são meus
Em quais deles serei teu

Não criar idéias tolas
Imagens presunçosas
Não trocar as bolas

Cada dia em que sou teu

Vale um ano sem saber o que sou

domingo, 21 de junho de 2015

Todos seus amores

Eu quero ser com você
Tão transparente quanto a água
Quero a água da tua boca
Do beijo molhado
Quero deixar teu corpo molhado
Quero ficar deitado ao teu lado
Como um herói derrotado
Que precisa ser consolado
Quero consolar tuas dores
Secar tuas lágrimas
De tristeza, de alegria, de cores
Quero ter todos seus amores
Quero seu amor.
Quero ser com você
Os alicerces do mesmo teto
Como um dia completo
Despertar e anoitecer,
Sonhar acordado ou dormindo com você
Quero comemorar seus desejos realizados
Quero gozar eles certos ou errados
Perdões ou pecados
Quero sê-los, dá-los, tê-los de você
Quero descobrir todos seus caminhos, corredores
Quero viver todos seus amores
Quero seu amor.
Quero com você
Um mundo revolucionado
Aprender o novo, abandonar o que sou ultrapassado
Como a vitória do povo
Quero te conquistar e te celebrar
Pelas armas, palavras e flores
Quero ser todos seus amores

Quero seu amor.

Fui

Fui
E eu nem acreditava
Fui
E fui contra a corrente
Fui
E foi melhor do que imaginava
Fui
Porque com você preciso fazer diferente

Fui
Larguei tudo que eu tinha
A mesa da sala, o armário da cozinha
A estante de livros no quarto, uma tarde vazia
Fui e é como se você
Tivesse vindo me ver

Fui
Gastei tempo e dinheiro que eu não tinha
A passagem mais cara, os comentários da vizinha
O aluguel atrasado, trabalho de manhãzinha
E foi como se nada mais
Ousasse acontecer

Fui
E fiquei dia e noite ao teu lado
Caminhando na rua, na fila do mercado
Dormindo um filme na rede, no colchão acordado
Fui e o que eu sei
É que volto outra vez

Fui
E é como se
Eu voltasse mais você

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aos que ocupam a história

Devanir, temeram tua luta.
Hoje temem seu nome.
Pra sempre temerão seu exemplo! 

Porque foste na engrenagem da história
Um dente rebelde que doía e sangrava
Mas que suportava todos os golpes
De alicates arrancando
De paus perfurando
De cordas sufocando
De lonas ocultando
Tua carne e teus ossos
Mas que não caía
Pois suas raízes estavam profundas
Na terra regada ao sangue dos trabalhadores e trabalhadoras
Onde mantivera seus pés firmes
Mesmo sobre o óleo que corria das fábricas
E fizera escorregar tantos outros
Cegados pelas miragens da ilusão de classes

homens de ontem e de hoje
Que de uma forma ou de outra

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mãe Palestina

Arte de Abdel Rahmen Mozayen
A maior dor para os palestinos
Deve ser atacar sua própria terra.
Talvez por isso os foguetes sejam tão inofensivos
Como a mãe que repreende o filho
Batendo mais com sua moral, para chamar a atenção
Do que com a própria violência do golpe.

Israel é o vizinho mau da casa ao lado
Afinal, desde quando, alguém agride o filho alheio?
Ainda mais contra a vontade de seus próprios filhos
Que sofrem ao ver o amigo chorando.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Vai-te embora coração

Vai-te embora coração
Deste corpo que não te pertence
Se não vai
Que de repente
Aqueles olhos, há de ti querer
E te querer aqueles olhos

Vai-te embora coração
Arreda pé desse caminho
Não me amole
Assim mansinho
Porque entre um gole e um carinho
Quem fica com as dores sou eu

Vai-te embora coração

segunda-feira, 10 de março de 2014

Conselhos para o próximo Carnaval


O poeta que não quer se dar ao ridículo,
Não quer ser lembrado pelo mau poema que escreveu - Mesmo que só ele perceba
E que a todos seja agradável –
Não deve escrever muito
Amar muito
Não deve viver muito.

Assim como quem não quer lamentar um amor
Não quer remoer-se pelo suco gástrico da amargura
Ainda com altos teores de álcool e confetes do carnaval
Não deve amar muito,
Viver muito.
Não deve escrever
Uma carta de amor sequer.

Não é de bom grado –
Para quem tem muito amor –
Viver e escrever

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mais um conto de verão...

Romperam de vez quando ele colocou o ventilador ao lado da mala.
Era o sinal de que não havia mais amor.
Dormir um de costas para o outro era justificável naquele verão infernal.
Mas ali estava a separação. Era o exemplo de toda a individualidade dele. De toda sua falta de empatia. Acima de tudo – falta de compaixão.
Por isso ele nem se ressentia em tomar o caldinho que fica quando o sorvete derrete. E a expressão que ele fazia quando ela pedia o último gole da cerveja antes de saírem do bar.
E sem paixão o que sobra do amor?

Agora ele espera o metrô na plataforma.
Sentado em cima da mala. Não olha vagamente.
Tem os olhos fixos no ventilador. Analisa os danos.