sábado, 18 de julho de 2009

Conviccção

Certeza, destino e convicção são coisas distintas.

Certeza é aquela sensação que todo mundo tem até começar a fazer algo, tudo vai dar certo até o primeiro passo quando já se começa errado. Destino é aquele coitado que sempre leva a culpa sem fazer nada, quando tudo da errado e já não se tem certeza de nada, é hora de botar a culpa no destino, e também se pode falar que Deus quis - isso nos casos mais graves – mas o destino sempre leva a culpa. Já a convicção é algo surpreendente, quando uma pessoa tem convicção ela tem certeza que tudo vai dar certo e o destino já está traçado e vai ser como ela quer.

Aí que mora o perigo. Josiel – nunca li esse nome nos textos do Veríssimo ou do Stanislaw, ou seja lá de quem for – era um cara de muitas certezas, um destino e muita convicção. Desde jovem tinha um sonho não muito comum entre os seres do sexo masculino de qualquer outro planeta que não seja o nosso, ser jogador de futebol. Começou cedo e haja visto muito mal, não acertava nem a cabeça do pai no gramado de casa – nenhuma das duas por sinal – não acertava a vidraça, não derrubava quadros dentro de casa, nem estourava o dedão no paralelepípedo na hora do chute fatal. Na verdade nem acertava a bola, só tocava nela quando chutavam nele, nem sempre por engano, foi assim que teve a certeza de que seria goleiro.
Começou bem, primeiro jogo, primeiro título sem tomar um gol, até quando saiu do banco de reservas para o momento mais glorioso para um goleiro, substituir o titular depois que ele cometeu um pênalti. Saiu-se muito bem, ileso do escorregão que levou quando foi saltar pra dentro do gol pra buscar a bola, nunca mais jogou nem futebol de botão. Guardou as luvas numa caixa para que elas não contagiassem mais ninguém.Como era jovem continuou nos esportes, adorava bicicletas, praticava bicicross – o nome era feio na época – na primeira corrida a barreira não abriu e ele não saiu ileso do tombo desta vez. Voltou depois de meses e no momento mais preocupante a barreira abriu, tinha passado o pesadelo e começado outro, saiu empinando só que a roda da frente não foi ele tinha apertado mal, a porca tava um pouco espanada, mas como ele tinha certeza que dava pra continuar, foi, e pois a culpa no destino.Desistiu dos esportes foi ser músico, adorava música era algo fenomenal.
Comprou um violão e na primeira nota a corda estourou no seu rosto e ele nunca mais tocou. Optou pela bateria - era mais segura, até a primeira baquetada quando quebrou o dedo no aro da caixa. Passou a tocar sax. Os dedos obedeciam, ia bem, chegou a montar o “Josiel e sexteto incerto” mas aos poucos descobriu a asma e abandonou o sexteto que se transformou num “quinteto certo”. Guardou os instrumentos num quarto junto as suas decepções.
Resolveu trabalhar, talvez assim com mais esforço conseguisse fazer algo que lhe rendesse reconhecimento - e ele veio – mole, imprestável, lerdo, burro, trambolho, etc... Ainda assim conseguiu se manter empregado e subir de cargo se tornando até um bom profissional, não ouvia mais xingamentos, não de colegas de trabalho, só do chefe.
Decidiu se casar estava convicto que era o momento, encontrou a mulher da sua vida, como ele sempre sonhara, seria muito feliz. Comprou carro, casa, e deixou os pais orgulhosos, pela primeira vez por mais de cinco minutos, e então quando foi mudar pra nova casa, abriu aquele quarto onde se guarda tudo que não presta – pelo menos pra gente – e quando juntou tudo teve a maior convicção que ali estava um Josiel justamente como ele sempre quis ser.

Marcelino

Honduras

Não vou dar uma data, hora ou lugar

Ou dizer se vou por terra, água ou mar
Só te garanto que um dia irei voltar

Pois quem nunca esquece do povo
Jamais será esquecido
Quem morre pra criar algo novo
Para sempre terá vivido

Não há nada que vocês saibam
Que eu não possa confrontar
Tudo que vocês façam
Eu tive prazer de inventar

Pois eu moldei o barro
Dei a imagem e o sopro da vida
Vocês só puxaram o carro
E entraram numa estrada perdida
Agora pensam que sabem o caminho do céu
Mas estão indo pra cidade proibida

Distorcem as palavras que ficaram
Escrevem por aí dizendo que fui Eu
Ainda não aprenderam nada
E se denominam Deus

Quando erram é minha culpa
Na fartura são seus os méritos
Só que ainda precisam vencer a luta
Contra a fatura do cartão de crédito

Vivem crise por falta de dinheiro
Descendentes de um povo que já enfrentou a fome
E insistem no mundo inteiro
Em renegar meu nome

São os donos do pedaço
Os únicos seres pensantes
Se eu imaginasse seu fracasso
Teria destruído tudo antes

O futuro que lhes reservo
É serem eternamente andarilhos errantes
Já estou criando tudo de novo
Com um povo menos ignorante

Marcelino