domingo, 31 de março de 2013

Assumo-me poeta

Frase do psicólogo soviético Lev Vygotsky
Não colocar as ideias em palavras é viver nas sombras!


Assumo-me poeta
E faço com a única intenção
De dar as minhas frases desconexas
Uma vulgar profissão

Às rimas dou-lhes títulos
Às paráfrases dou razão
Às antíteses dou ouvidos
E aos sonetos, promoção

Assumo-me poeta
E já caio em contradição
Rimas soltas, rimas certas
Sonetos, odes, ou canção?

Aos verbos dou-lhes vírgulas
Às certezas, opção
Ao sentido, tiro a clareza
Dos sinais de pontuação

Assumo-me poeta

sábado, 30 de março de 2013

Naquela noite ele queria ser outro


Naquela noite ele queria ser outro.  Não suportava sua existência tão comum há tantos anos. Era uma sexta à noite e ele precisava mudar. Havia chegado a hora de fazer acontecer.

Sugeriram-lhe que fosse Jesus. Achou simpático demais. Muito bondoso, muita compaixão. Além do mais, poderia ser trocado por um bandido. Esse seria o estopim para distorcerem tudo que dissesse e enganar o pobre povo que o acreditaria cegamente.

Sugeriram-lhe que fosse Galileu. Um grande revolucionário, pensou. Mas que recuou para não perder a vida. E um revolucionário deve morrer de pé, jamais em retirada. Tudo podia ser diferente se Galileu tivesse suportado as armas da tortura dos falsificadores de Jesus.

Sugeriram-lhe que fosse Napoleão. Impactante, foi como observou. Mas se fosse para ser conquistador, ao menos seria um herói e não um louco. Talvez Bolívar, retrucou.

Sugeriram-lhe que fosse Ford. Automático demais. Como poderia suportar ter criado o lucro em cima da repetição. Um atraso para o mundo. Homens cegos com um único movimento salvo em suas memórias.

Sugeriram-lhe que fosse Don Juan. Isso era tentador. Era de amor que precisava. Mas suas paixões

segunda-feira, 11 de março de 2013

Protesto Poético

O poeta russo Maiakovsky

Não vou renegar meu passado de poeta analfabeto
Não vou me curvar às regras da burguesia da língua
Vou ser um rebelde dos versos sem métrica
Farei passeata pelas estrofes com as palavras oprimidas
Caminharei de mãos dadas com os sentimentos
Carregarei a bandeira do livre-arbítrio literário
Fonemas, adjetivos, verbos e substantivos
Perderão seu caráter de classe e seus privilégios sintáticos
Todos serão palavras. Sem distinção de raça, credo, função ou cor
Minha poesia será para os que não sabem ler
Será para os que não compreendem o ultralfabetismo do intelectual
Será para os que trabalham e sabem do que eu digo