quinta-feira, 4 de julho de 2013

O vago que move

É o poder do silêncio
Daquilo que eu quero escrever
Como os furos de uma blusa de lã tricotada
Como o interior de um balão flutuando
Como o rio que lentamente vai-se anônimo sob a ponte de madeira no interior do país
Como o vazio dos zeros de um milhão
Como a colmeia que tem no oco dos favos o mel

É o poder do silencio
Que quero as pessoas sentindo ao ler
Como a descarência do abraço apertado
Como o não respirar do beijo apaixonado
Como o surdo encontrar de olhos ao descer do ônibus em uma rodoviária em Minas Gerais
Como o sorriso amarelo de café
Do cronista que passou noites acordado

É o poder do silencio
Do abanar do rabo de um cão
Do esfregar-se entre as pernas do gato
Do calar-se do pássaro preso na gaiola
Do rastejar de olhos no título do livro sentado no banco ao lado no ônibus
Do buscar outros olhos no reflexo do vidro do metrô
De um coração que tem mais coragem que a boca

É o poder do silêncio
Dos versos livres sem rimas
Que dizem insultos em outras línguas
Que viram palavras cruzadas, enigmas, criptografia da cabeça do poeta no coração do leitor
Da sonoridade das palavras
Que só sabe o estudante de letras

Da paixão que compõe todo e qualquer um
De nós, que sabe ler entrelinhas
E ouvir e sentir por trás da epiderme

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