sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Cadê tu

Onde está tu, poesia,
Quando o mundo precisa de você pra não me acabar
Estou quase achando normal um amor em que não se ama
Uma revolução sem levantar chamas
Música que não dá vontade de dançar
Onde está tu
Quando não se corrige mais quem erra
Nobel da paz é dado pra quem camufla melhor a guerra
E se soterra os caminhos que deveríamos trilhar
Onde está tu, poesia
Agora que o dia-a-dia virou apenas dia-a-dia
Que uma cama vazia é apenas cama vazia
E não mais lugar pra se sonhar
E desesperar
Cadê, cadê tu, poesia

Quando um olhar e um coração acelerado
São motivos pra ficar preocupado, ser medicado
E os apaixonados não têm disso mais
Cadê tu, poesia
Nesses dias que toques de pele se tornaram submissos
E descidas pra praia são trocadas por compromissos
E a vida é vívida só pela tela do celular
Poesia cadê tu,
Que não te encontro nos rostos, nos gestos forçados
Nesses gritos tresloucados dos que se dizem teus afilhados
Te descontruíram tanto querida
Que só tocam fundo a ferida
Mas não carregam nas palavras teu sopro
Aquele breve conforto que suaviza a dor e os ouvidos
Que nos deixa um momento ressarcidos da tua fúria
Das injúrias que despejas tão sutil
Onde está tu, poesia
Que não cobra do tempo que reponha teus emissários
Drummond ele já levou, Vinicius está apagado para alguns
Neruda às vezes me é insosso – dá-me um soco
Cadê o soco de Brecht pra nos por de volta no lugar
Cecilia e Bandeira, um amor e uma brincadeira
E lembraríamos que tu é paixão com que não se deve brincar.


Poesia, sem ti eu enfarto
Só de olhar o mundo da janela do meu quarto

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